Era a manhã de uma quarta-feira cinzenta, quando eu saindo de casa olhei pro céu. Já estava acostumado com não ver mais o céu azul. Só o ‘foggy’, clássico londrino, que não sei como atrai turistas... Preferia estar no sul da Itália em num sol, do que nessa monotonia...
Eu já tinha acostumado com a solidão também. A gente se acostuma em ficar só nesse marasmo...
Eu estava entrando no prédio do meu trabalho. Já não agüentava mais, não trabalhar, mas ter de ficar nesse lugar. Ainda ia ter de apresentar o escritório para uma moça que começaria a trabalhar na sessão de contabilidade. Já não bastava tudo o que eu já aguento, me vem mais essa...
Quando cheguei ao meu andar esqueci-me de tudo quando entrei na porta da sessão de contabilidade: Havia uma mulher sentada esperando. Ela era com certeza a mulher mais bonita que eu já tinha visto na vida. Branca com a pele com um leve tom de bege, os cabelos escuros (mas que tinham algo diferente dos outros cabelos) presos em um coque por um elástico ou alguma coisa assim. Tinha o rosto com perfeitas proporções, nariz pequeno, mas não muito; seus lábios tinham volume apesar de finos. Os seus olhos que me pareciam entre o castanho e o mel, me encantaram ainda mais.
Foi quando voltei a terra e percebi que ela também me olhava com certo encanto. Mas logo eu? Eu? Eu tinha 1,70m, era magro, cabelos escuros, olhos castanhos, rosto sem proporções. Nunca fui bonito. Mas ela me olhava com o mesmo encanto que eu olhava para ela...
Ela quebrou o silêncio.
-Bom dia, o senhor é John Albert?
Sim eu sou. E detestava esse nome em inglês. Quem olhava para mim achava que eu era italiano. Quem lia meu nome achava que eu era inglês. Meu pai e sua mania de querer nomes incomuns no Brasil. Sim sou brasileiro.
-Sim – disse com a voz rouca. Percebi que estava mais tenso perto dela do que eu pensei...
-Sou Amanda Souza. Vim trabalhar aqui em Londres.
Sim era ela. Ela era a moça a quem deveria apresentar o escritório.
A partir desse instante eu não lembro mais o que falamos. Lembro que apresentei a ela a empresa, e que na hora do almoço fomos conversando até um restaurante. Almoçamos juntos e conversamos. Percebi que gostava das mesmas coisas que eu, que ouvia as mesmas músicas que eu, gostava dos mesmos pratos...
Voltamos para o escritório e comecei a lhe ensinar o que fazer. Fiz tudo o que podia, mas muitas vezes me perdia olhando para ela.
O dia passou. E todos os outros do mês. Nós começamos a namorar. Não era proibido na empresa, mas apenas não podíamos ficar namorando durante o expediente.
Passaram oito meses. Meses que foram um sonho. Amanda e eu estávamos planejando uma viagem para o sul da Itália, meu sonho.
Foi quando vivi o último dia da minha vida.
Estava chegando ao trabalho, quando vi uma multidão em volta de alguma coisa. Ouvi com custo alguns murmúrios: uma pessoa tinha levado um tiro após uma perseguição da policia a um assaltante. O assaltante disparou nos policiais e acertou um inocente que estava indo em direção ao prédio...
-Em direção ao prédio?- eu pensei preocupado
Fui me espremendo entre a multidão, quando vi o corpo de Amanda no chão, ensanguentado me desesperei. Não sei como, mas passei por cima de todos na minha frente e cheguei até ela. Ela tinha perdido muito sangue e a ambulância não chegava... Eu segurei sua mão e disse:
-Meu amor estou aqui
Ela olhou com aqueles lindos olhos e me disse:
-Desculpe John... Eu vou te deixar...
Ela estava morrendo... Eu sabia mas não queria acreditar.
-Não não vai!-Eu gritei chorando como nunca me lembro de ter chorado na minha vida...
-John eu te amo...-ela me disse enquanto sua voz foi morrendo. E ela também. Eu a segurei em meus braços, e disse:
-Eu também te amo, mas não me deixe Amanda... – eu não me preocupava com quem estava em volta...
Foi então que em meus braços ela deu um sorriso e seu último suspiro. Quando vi que tinha perdido meu amor eu sei que desmaiei, mas não lembro.
Hoje eu não tenho mais motivos pra viver. E talvez buscando o que me ocupe eu conte essa história aqui. Pra poder continuar olhando da minha janela, esse céu azul da Itália.
Diego Bachini Lima - 09 de Junho de 2009 - 12:15:27